Integrity - Os pregadores do hardcore apocalíptico (parte 2): A reencarnação como Integ2000


Voltamos de novo com a história do controverso, bizarro e furioso grupo de Cleveland, Ohio. Na primeira parte foi abordada a "era Melnick", que contém os álbuns clássicos da banda. Depois de Seasons In The Size of Days, o Integrity se dissolveu e ficou em silêncio. Mas não por muito tempo...


Em 1999, Dwid volta com a banda, com uma nova formação e sob o nome Integrity 2000 (ou Integ2000, como preferir). Nessa formação havia membros do grupo de metal alternativo Mushroomhead (Dave, Skinny e J. Popson). O primeiro lançamento dessa formação curiosa foi um álbum homônimo, com um apelo mais metalizado e grooveado, o álbum foi tudo menos bem recebido entre os fãs. Além da mudança sonora, uma participação especial no disco chama a atenção, que é nada mais nada menos que Derrick Green do Sepultura, que canta na versão acústica/retrabalhada do som Eighteen, que estava no primeiro álbum da banda.


No meio tempo fizeram um split com Fear Tommorow, que ainda rumava no metal grooveado, porém esse já tinha pitadas de thrash. Além de gravarem um cover surreal de Orgasmatron para um tributo ao Motörhead, nesse cover a semelhança entre os vocais chega a ser absurda:


Após o infame álbum, outro disco foi lançado no ano seguinte, com o nome Project: Regenesis, o álbum contava com 5 músicas novas e 5 covers, um do Slayer e outros absurdamente inusitados como Billy Idol, Dona Summer e Gary Numan.


Depois disso o grupo sofre com outra mudança de formação e em 2001 é lançado o último álbum dessa era experimental, Closure mostra um lado mais sombrio e melancólico na arte destrutiva de Dwid. As influências de industrial e darkwave são muito bem vistas, o uso de elementos eletrônicos, samples, vocais limpos, spoken words e noise perpetuam quase todas as faixas, além de músicas acústicas. Um dos melhores e até mais bem recebidos dos trabalhos dessa era infame. Após isso o Integrity faz outra pausa que não dura muito tempo...


Voltando a ativa em 2003, Dwid ressurge com outra formação, contando com ex-membros do One Life Crew (Blaze e Chubbz) e  Mike Jochum nas guitarras. Com essa formação sai o álbum To Die For, pela Deathwish Records, selo de Jacob Bannon, vocalista do Converge. Com esse disco a banda faz a boa e velha mistura de metal e hardcore que sempre fizeram, rendendo pérolas como To Die For, Heaven's Final War  e Taste My Sin. Apesar do som "modernizado", o disco foi bastante bem recebido pela fanbase, mas a popularidade sempre foi a menor das preocupações de Dwid.


Desde o ocorrido, a banda não toca nenhuma música dessa época, além de que mal houveram shows durante a era "Integ2000", aliás hoje em dia Dwid gosta de nomear a tríade de 1999-2001 como um projeto paralelo e não como discos e trabalhos do Integrity.


Na próxima parte: Ressurgindo das cinzas mais uma vez, as gravações em casa e o novo rumo da banda com as eras Jochum/+Orr...

Integrity - Os pregadores do hardcore apocalíptico (primeira parte)


Quando o Maurício criou esse blog, sabia que seria inevitável ele falar de Poison Idea um dia, assim como pra mim seria inevitável falar sobre esses caras aqui. Essa banda é uma das poucas na qual posso dizer que sou "fã", os caras sempre me influenciaram como músico e pessoa. Então vamos falar sobre a entidade negra do hardcore: Integrity.

Como o post vai ser MUITO longo, terei que dividí-lo em duas partes, nessa primeira abordarei o que muitos admiradores consideram como a "época de ouro" da banda, que contava com os irmãos Melnick e rendeu as obras mais famosas do grupo:


Formado em 1989, a banda teve inúmeras mudanças nas suas formações, seu único membro fixo e mentor do grupo é o vocalista Dwid Hellion. Influenciados por bandas como Mighty Sphincter, Septic Death, Motörhead, Zouo, GISM e Samhain, os caras criaram uma sonoridade que para alguns pode ser denominado como os primórdios do metalcore, para outros o início do hardcore "negativista", mas o que se pode dizer que eles são uma banda única e sem precendentes.


Além da música, suas letras apocalípticas, as imagens e histórias bizarras que envolvem o seu infame frontman fazem com que a banda criasse um status cultuado e divisor. Não é o tipo de música que cria meios termos.


Começando com o nome Diehard em 1988, após um ano de duração a banda trocou de nome e mudou sua formação, mantendo apenas Dwid nos vocais e Aaron Melnick nas guitarras. Em 1990 foi lançado o primeiro EP In Contrast Of Sin, pela Victory Records, nesse trabalho vemos um hardcore bem típico dessa época de transição que havia nos Estados Unidos, flertando com grooves, sing alongs e andamentos arrastados vindos do metal.


Em 1991 é lançado o debut Those Who Fear Tomorrow, mantendo a linha do seu EP, a banda começa a usar temáticas mais obscuras para suas letras, além de flertarem mais e mais com o metal, o uso de bumbo duplos e solos mais frequentes. A partir desse disco o grupo começou a ter uma grande notoriedade, em 1992 houve o controverso show "Palm Sunday" no bar local Peabody's, onde Dwid provocou um membro no público, essa pessoa tentou esfaqueá-lo e no fim acabou cortando o cabo do microfone enquanto cantava a primeira música do show. Resultado: Após o show, Dwid, a banda e boa parte do público perseguiu o agressor pelas ruas e espantando-o do local (abaixo há um vídeo do show com a cena da briga).


Com outra troca de formação, que rendeu a entrada do irmão de Aaron, o baixista Leon Melnick, além de Frank Novinec junto nas guitarras (conhecido hoje pelo seu trabalho no Hatebreed), em 1995 é lançado o álbum Systems Overload, outro sucesso da banda. Apostando em músicas mais rápidas e viscerais (No One, The Screams) e músicas com temáticas mais diferentes (como Armenian Persecution, escrita pelos irmãos Melnick, que tem descendência armênia) e um pequeno traço dos experimentalismos da banda na faixa Unveilled Tomorrows, que sampleia um sinfonia de Schnittke e o uso de elementos de noise.


Em 1996, foi lançado o EP Humanity Is The Devil, com a artwork feita pelo Pushead (vocalista do Septic Death, uma das maiores influências do Integrity). As mesclas com o metal ficam cada vez mais notáveis e também usando de elementos do noise (Dwid tinha um projeto do gênero chamado Psywarfare) na música, além dos conceitos sobre a Process Church Of Final Judgement serem mais visíveis nas letras, o EP é considerado o magnum opus do grupo. De acordo com a banda e o exército americano, as músicas desse trabalho são usadas para táticas de guerra do PSYOPS para torturar e interrogar presos. Segundo Dwid, que sempre gostou do termo de "música como uma arma", é um orgulho paradoxal, pois não esperariam ver ela ser usado nesse tipo de método.


Em 1997, Seasons in the size of Days foi a última obra do que os fãs consideram a "Era Melnick" (ou a era dourada da banda, dependendo do público...),  usando de elementos acústicos e também músicas de sonoridade arrastada (doom/sludge?) e thrash metal (Season Decided Fate).  As líricias e conceitos sobre misticismo, metafísica e terrorismo religioso envolvem essa obra, com a faixas polêmicas como Sarin (sobre os ataques terrorista em 1995 no Japão feito pelo culto religioso de Shoko Asahara) e Burning Flesh Children to Mist, que sampleia os últimos momentos do culto de Jim Jones, onde eles e seus seguidores cometem um suicídio coletivo. Depois a banda se separaria e encerraria as atividades, por um tempo...


Todos os álbuns da banda estão disponíveis para download grátis no site da gravadora de Dwid, Holy Terror Records, apenas clicar nesse link e escolher o que quiser, além de trabalhos de outras bandas lançadas pelo selo.

No próximo post: O retorno como Integrity 2000, To Die For e a era Jochum/+Orr.

Les Legion Noires - As Legiões Negras do Black Metal Francês


Sim, mais um post envolvendo a França, sempre achei o país um polo interessante de música, assim como a Suécia e o Japão, trouxeram cenas bem únicas e difíceis de imitar. No caso de hoje falaremos de uma destas...

As Legiões Negras foi um movimento de bandas de Black Metal e Dark Ambient que surgiram na França. Teve seu suposto início em 1991 e durou até 1998. A maioria dos membros dessa escola musical se isolaram da sociedade e viviam em florestas ou terrenos mais baldios. 


Mas isso não era o peculiar, mas sim o fato de apenas gravarem demos, EPs e álbuns LIMITADÍSSIMOS (estoques de 10, 20 cópias) e todos os seus produtos eram distribuídos para fontes confiáveis (isso mesmo, se você ganhava uma fita desses caras, podia ser considerado o cara mais trve e  fudidão do rolê), e era completamente proibida a venda dessas fitas em lojas e pirataria. Mas creio que vocês já sabem que não ficou por isso, membros do próprio ciclo acabaram fazendo bootlegs e divulgando para mais pessoas, porém esses foram expulsos do LLN.

Por volta de 1996 e 1998 as bandas começaram a ter seu material repercurtindo por toda a Europa e viraram um fenomeno cult, até hoje só tiveram entrevistas saindo numa única zine (era chamada Black Plague) que além de falar dos caras, mostrava um pouco da cena BM Norueguesa. 


Musicalmente, o que eles tem?  Bem, é um black metal da velha escola, absurdamente lo-fi e brutal, bastante uso de bate estacas e riffs inspirados em Bathory, outro fato curioso é que alguns dos projetos usavam de uma língua própria formada pelos próprios membros, esse idioma era o Gloatre, baseado numa mistura de francês com alemão. Porém essa linguagem era usada mais pra escritas de músicas e nomes de projetos quase impronunciaveis, provavelmente um plano para serem evasivos e evitarem mais e mais a divulgação boca a boca.


Então vamos apresentar algumas bandas importantes do meio e seu rápido histórico:

MÜTIILATION
 

Talvez a mais "famosa" do movimento, formada e mentalizada por Meyhna'ch, foi o primeiro grupo do ciclo a lançar material, o EP Hail Sathanas We Are The Black Legions. Mesmo após o fim do LLN, o Mütiilation durou até 2009, fazendo constantes lançamentos além de ser a única banda das legiões que fez alguma performance ao vivo (dois shows que ocorreram em 2001). Em 1996 foi banido por ter sido "junkie" demais, mas seu legado para o gênero foi importante até hoje e é um dos poucos do grupo que pode ser visto publicamente pelos rolês de lá.



TORGEIST


Essa é uma das poucas bandas com formação do grupo, formada por Vordb (baixo), A Dark Soul (baterista anônimo, podia ser qualquer um dos membros), Lord Aäkon Këëtrëh (Guitarras) e Lord Beleth'Rim (Guitarras e vocais). Foram um dos responsáveis pela disseminação do movimento e fizeram as infames vendas de bootlegs e fitas dos próprios. Duraram de 1992 até 1996, depois Beleth'Rim foi expulso das legiões. Hoje ele toca na banda Vermeth. Beleth'rim até hoje é considerado um traidor que usa seu status como ex-membro do LLN para promover a si e seus outros projetos...


Baixe aqui a demo Devoted To Satan

BELKETRE


Formada por Vordb e Aäkon Këëtrëh, a dupla é uma das outras bandas principais do gênero, além de serem dois dos membros mais prolíficos do ciclo, já que participaram em quase todas as bandas do LLN de alguma forma. Esse projeto apenas lançou várias demos entre 1993 e 1996, seu único "lançamento grande" foi um split com Vlad Tepes conhecido como March To The Black Holocaust, aliás esses 2 grupos foram as engrenagens e mentes principais pelas regras e pensamentos das Legiões Negras. Há boatos de que uma zine haveria botado o endereço dos membros por engano na hora de terem publicado uma resenha de seu material numa edição, e Belketre ameaçou de morte o escritor dessa zine. Antes a banda teve duas encarnações que foram a Chapels Of Ghouls e a Zelda:

ZELDA (ANTIGA ENCARNAÇÃO DE BELKETRE)



VLAD TEPES 


A última banda a cair dos Les Legions Noires, essa dupla contava com Wlad e Vorlok (além do batera contratado Nifleim), ambos tinham uma banda menor com Vordb chamada Black Murder (que durou 2 demos). No mesmo caso do Belketre, lançaram uma infinidade de demos e apenas 2 splits. O último lançamento deles (e das legiões negras) foi a demo/tributo The Black Legions  que contou com covers do Mutiilation, Belketre e o Brenoritvrezorkre (projeto solo de Vordb). No meio tempo lançaram os projetos Vermyapre Kommando e Seviss (de acordo com o autor desse post, 2 das minhas bandas prediletas do LLN).






SEVISS

 

OS PROJETOS DARK AMBIENT:


Ironicamente quase todos eram maestardos por Vordb: Möevöt (que já existia antes do LLN), Brenoritvrezorkre (com um certo uso de noise e ambient), Susvourtre (feita junto com o Vorlok, durou apenas uma demo, porém contava com bateria e baixo e a temática de pedofilia) e Dzlvarv (com Aäkon), quase todos os projetos de Vordb foram feitos pela estranhíssima linguagem do Gloatre:


Infelizmente sobrou MUITAS bandas que ficaram de fora (inclusive a "fake legions", feita por canastrões que queriam se passar por bandas do movimento, ou apenas fãs absurdamente bitolados que levaram isso além de um mero tributo), porém os interessados nas Les Legions Noires, seus boatos e grupos podem consultar esse blog aqui para maiores informações, porém todos os links de download estão quebrados, mais fácil tu criar ou reativar teu bom e velho Soulseek e começar a caça ao tesouro.