Ministry: Ding a Ding Dang My Dang A Long Ling Long


Geez, it's been 20 years...

A clássica introdução de Candy, epifania do Iggy Pop, pode ser usada para indicar a passagem do tempo dos presentes dias ao momento em que o Ministry vivia sua fase de maior sucesso e relevância musical. Mas sua busca incessante por inovação (mesmo que muitas vezes equivocadas) e a autenticidade de seu trabalho faz a audição do Ministry nos anos '10 não só recomendável mas necessária para quem quer entender os rumos que tomou o rock pesado e conhecer um trabalho instigante e fora dos padrões.
Nascido em 1958 e  filho de refugiados cubanos Al Jourgensen (líder e cabeça do Ministry) era novo demais para ter sido hippie; e durante a explosão do Punk Rock, não deu muita importância prá geração vazia de NY nem prá anarquia no Reino Unido, pois já havia sido catequizado pelo hard rock do período de bandas como Lynyrd Skynyrd, ZZ Top e Led Zeppelin. Admirava a capacidade de seu ídolo-mor Jimmy Page de usar o estúdio como um instrumento musical e a enxergar a produção como parte integrante da música. Al tentou por um tempo ser guitar hero, mas não tinha grandes habilidades com o instrumento e logo desistiu. Daí partiu para uma carreira no baseball em sua cidade Chicago que também não durou muito.
Just a Juvenil 
Com a chegada do sinthpop e New Romantic, Al se encanta pelo som dos sintetizadores e enxerga nessa vertente algo que ele poderia fazer, já que o estilo de bandas como Duran Duran estava fazendo bastante sucesso e não requeria grandes habilidades musicais. Desse período veio o debut "With Sympathy", apresentando um pop eletrônico e diferente dos trabalhos que consagraram a banda. Críticas negativas vieram de toda parte, a mais célebre do conterrâneo Steve Albini, que na época escrevia para uma revista de Chicago e até hoje é um eterno detrator de Jourgensen.


Em 1986 veio Twitch, disco mais pesado e rock do que o anterior mas ainda com característica bem pop e dançante. A mudança veio a ocorrer na turnê desse disco, com a entrada de Paul Barker, que era do punk rock, vindo da banda Blackouts. A entrada de Barker foi fazendo o som gradativamente ficar mais denso; e inclusive foi quem apresentou o "Speak English or Die" do SOD para Al, que ficou fissurado no senso de humor sem limites e do hibrído de punk e metal. "Speak English Or Die" é referência máxima no novo direcionamento do grupo.
 
Paul Barker


Dai começaram a pesar a mão nas guitarras e em 1988 veio a primeira das obras-primas deles, "Land of Rape and Honey." Letras como " Just like a car crash, just like a knife, my favorite weapon is the look in your eyes" já  marcam uma total ruptura com o que fizeram no passado. Um novo monstro havia nascido. Um som perturbador de guitarras sintetizadas ultradistorcidas, vocais enterrados claustrofóbicos, samplers de diálogos de filmes, barulhos de máquinas, letras niilistas e inteligentes. Nessa época a dupla também adotou os codinomes Hypo Luxa e Hermes Pan (Alain Jourgensen e Paul Barker, respectivamente).
Era o Ministry se ligando ao rock industrial . O rock industrial ou som industrial, criado pelo Throbbing Gristle e praticado por Cabaret Voltaire, KMFDM, Whitehouse;  tendo também elementos dele em bandas de hardcore mais noisy como Flipper, Swans, Big Black e Scratch Acid, até então não havia saído do underground do underground. Com o sucesso do Ministry o gênero ganha visibilidade e o termo e som saem do gueto. O Ministry levou o som das máquinas a outro patamar, com a adição de guitarras pesadas e a glamourização do grotesco para as grandes massas.


Era fins dos 80's e o hard farofa e o pop da época dão sinais de desgaste. Os Estados Unidos passavam por uma grave crise econômica, devido principalmente a gastos militares através dos anos com a Guerra Fria (alguma semelhança com a situação de hoje e a Guerra ao Terror?). Desemprego, incerteza quanto ao futuro, escalada da violência e do uso de drogas pesadas. As paradas de sucesso pediam algo mais realista e agressivo. O modelo yuppie tinha ido prá vala. O Guns N' Roses com seu Appetite for Destruction, mostrando uma proposta diferente, representando o americano branco e pobre (white trash), obteve grande sucesso e mostra um reflexo do período. O rap, que desde seu surgimento só falava de ostentação e rixas de gangues, ficou mais sério, com a política e o afrocentrismo do Public Enemy e o niilismo e Shock Rap do NWA, trazendo terror para os cidadãos de bem. Todos eles nas paradas de sucesso e capas de revistas. O Ministry tinha vindo na hora certa, no lugar certo e feito pelas pessoas certas.

Em 1990 outro caos, "The Mind Is A Terrible Thing to Taste", continuando a saga do anterior. Letras sobre serial killers, violência urbana de forma geral, os aspectos mais sombrios do mundo com as percepções aumentadas pelo consumo maciço de drogas. Com ele uma estrondosa turnê e o disco ao vivo  "In Case You Didn't Feel Like Showing Up" em que a banda se apresenta num cenário em que são separados da platéia por uma tela de arame, o que torna as apresentações ainda mais tensas. Os shows violentos da banda começam também a atrair a atenção de skinheads white-power, que enxergavam conteúdo nazi na letra de "Land of Rape and Honey", apesar de o Ministry sempre ter repugnado a Extrema-Direita e ter um pensamento libertário.


No ano seguinte e como resultado da destruição total nos shows, cansaço da estrada e abusos químicos por parte de Al Jourgensen e Paul Barker nasceu "Psalm 69", um dos álbuns mais perturbadores, descrentes, violentos, soturnos e inacessíveis  já feitos, onde os elementos trabalhados nos dois últimos álbuns de estúdio estão aqui elevados à enésima potência, com letras mirando contra a religião cristã, o governo republicano de George Bush I, a mídia sensacionalista, a estupidez yankee. Não resta esperança, só momentos de  fugas através das drogas que por si só se transformam em outro pesadelo (vide  o clipe de "Just One Fix", com participação de William S. Burroughs, o junkie prototípico).
 

Tudo isso fruto das experiências no Wax Trax Studios, um laboratório em que todo tipo de experiência depravada, demencial, experimental e zoenta era testada por toda a nata de viciados, freaks e praticamente toda  a fauna humana peculiar da época. 

Al Jourgensen e David Yow (Scratch Acid/ Jesus Lizard)
O Ministry trouxe neurônios pro metal, o que sempre foi escasso dentro desse universo. Sem soar pedante ou artificial, a banda conseguiu trazer inteligência e realismo a um universo lírico povoado por dragões, Satan, violência gratuita, medievalismos, pseudo-ocultismo de RPG, ou letras sobre a good life de carros, Penthouse, laquês e orgias.

Passaram-se 4 anos de turnê e veio em seguida Filth Pig, que saia da linha que estavam seguindo nos últimos álbuns. Sem elementos eletrônicos, mais lento e sendo quase que um disco de thrash, dividiu opiniões. Há nele um cover inusitado de "Lay Lady Lay" (era moda nos 90's as bandas de rock fazerem cover de bandas pop que aparentemente não tem nenhuma relação com o som feito por elas). Com Filth Pig marca-se também o fim do período mais criativo do Ministry.
 

Eles foram lançando discos mais convencionais e voltados para o metal, deixando os experimentalismos para os diversos álbuns de remixes, versões dub e diversos projetos paralelos. Os discos seguintes eram ora lentos e deprês como "The Dark Side of Spoon", ora raivosos como em "Animositina" (último trabalho com Paul Barker),  a trilogia anti-bush de "Houses of the Molé", "Rio Grande Blood" e "The Last Sucker" e nos últimos "Relapse" e "From Beer to Eternity", esse com uma pegada mais industrial, que não se via desde o "Psalm 69" e que também é o último trabalho do guitarrista Mike Scaccia na banda, que colaborava desde 1990 e teve uma trágica morte por overdose. Essa perda foi bastante sentida por Al, o que culminou com o fim do Ministry.

Mike Scaccia




É lançado o dvd "Fix", documentário on the road da banda em diversos períodos e que conta com as participações de Jello Biafra, Trent Reznor, Ogre, William Burroughs, Timothy Leary dentre outros. Em 2013 AJ lança sua autobiografia (livro tragicômico e que narra as doideiras, experiências de quase morte, sodomias, blowjobs e aberrações de pelo menos 30 anos dentro do universo do showbiz, no mainstream e underground. Dentre as muitas declarações e desabafos ele fala dos plágios gritantes de seu visual por parte do Rob Zombie e do personagem Jack Sparrow, de Piratas do Caribe, interpretado por Johnny Depp).
Apesar de o Ministry ter encerrado suas atividades oficialmente, isso não pode ser levado muito a sério, porque já anunciaram o fim da banda outras vezes. Al Jourgensen continua sua eterna luta contra as drogas e recentemente em sua página no Facebook afirmou que estava se internando para se tratar de problemas ligados ao alcoolismo. Como tem bons genes e é um sobrevivente à moda de Lemmy e Keith Richards, o mais provável é que em breve estará na ativa de novo. Aguardamos ansiosamente, porque Al mesmo não estando na sua melhor forma, é figura mais interessante e digno de crédito que 99,9% do universo pusilânime e coxa que tem rolado por ai. Vida longa ao Alien!
 

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