Entrevista - Bandanos

Faz um tempo que não postamos nada, nós sabemos. Mas para sua alegria, voltamos com uma entrevista dos Bandanos. Aproveitamos a passagem deles aqui por Porto Alegre, na turnê do novo álbum "Nobody Brings My Coffin Until I Die" e fizemos várias perguntas.


Mas primeiro uma introdução: Bandanos é uma banda de thrash/crossover formada em São Paulo, formada em 2002. Apesar da estética e nome remeter muito ao Suicidal Tendencies, não se deixe enganar, eles estão bem longe de ser uma cópia qualquer, só dar um play que tu nota as influências de nomes como Accüsed e Corrosion Of Conformity (principalmente pelos vocais do Crisplatterhead), além de Excel, D.R.I., entre outros. Perfeito para aqueles que curtem um thrash metal das antigas e não quer recorrer ao revival retro que rolou no país, mesmo com essa intenção de ode a época, o Bandanos consegue colocar sua própria identidade e características em suas músicas.


Com dois álbuns e uma cambada de EP's e Splits com bandas como Violator, Destruction's End, Biting Socks, Toe Tag (que tem membros do Accüsed) e Blasthrash, o Bandanos já tem seu nome bem consolidado na cena metal nacional e internacional. Abaixo segue a entrevista dos caras:

Pergunta básica pra iniciar: Como a banda começou e o que rolou nela até hoje? (turnês, formações, etc.)

Marcelo Papa: Eu sou o único da formação “original”, digamos assim. Comecei a banda junto com o Lobinho (Ex- Point Of No Return), Ruy Fernando ( Ex- no Violence), Franz (Ex- War Inside) e Alessandro Soares (NOALA). Éramos amigos de longa data e em uma conversa virtual no finado mIRC, resolvemos montar a banda, meio  despretensiosamente.  Fizemos os primeiros sons com essa formação. Mas a banda era um projetão de todos. Com o tempo ela foi ficando mais séria e as formações mudaram.  Acho que a mais marcante aconteceu quando nos firmamos como quarteto, com  o Cris assumindo o vocal, depois de ter tentado tocar baixo e o Bucho (Rot/Cruelface) assumiu o baixo. Essa formação durou 5 anos. No fim 2010 o pessoal já estava meio sem pique de fazer shows, resolvemos dar um tempo e voltamos no começo de 2011 com a formação atual, que conta com Cris na voz, eu na guitarra, Lauro no baixo e Helder na batera. Desde então,  compusemos material novo, gravamos  e estamos tocando em tudo quanto é lugar por ai. Sobre tour, já tocamos quase no Brasil todo. Em 2008 fomos pra uma pequena tour de 5 shows pelo Chile e em 2009 fizemos 29 shows por 13 países na Europa. 


Muitas pessoas associam vocês ao Suicidal (bandanos, bandanas, trocadalhos do carilho e inúmeros covers), mas se analisarmos mais a fundo, o grupo tem outras influências mais notáveis como Corrosion Of Conformity, Excel e outras bandas do gênero crossover. Na hora de composição vocês já tem a mentalidade crossover ou chegam a ter influência de elementos de outros gêneros musicais? 

Marcelo Papa : A influência de ST na banda existe e é inegável, mas sempre buscamos muito mais a estética da parada, do que se preocupar em soar igual. Temos muitas influências absurdas que nem passam perto do metal. Nosso batera é pianista e adora musica clássica. Eu piro muito em Folk, Soul Music, Rap, O Cris é do Grind. Só o Lauro que é Metal TrOO mesmo e só escuta isso ...hahaah.  O fato de soar “crossover”, com o tempo de tornou natural. Acho que quando vc tem 4 pessoas na mesma sintonia e entendendo o que querem  fazer, tudo sai mais fácil. O Helder é o mais novo na banda, mas nós já tocamos juntos em outra banda de crossover 15 anos atrás. Entrosamento e estar sempre tocando, fazendo tours, ajudam demais na hora de compor tbm. 

Lauro: nossas influencias alem do crossover também podem incluir hardcore, stoner, heavy metal, death metal, thrash metal, punk e por ai vai. Dentro dessas influencias esta todo o de composição da banda. Creio que essas bandas que você citou na pergunta acima ouviram o que nos ouvimos.


E quanto as letras? Nota-se que o conteúdo lírico vai desde coisas mais sérias (Justiça das Ruas, Azul Vermelho e Branco), temas mais debochados e informais ( Urban Thrash Skate Maniacs, Te Amo Porra), como é o processo de escrita delas e como puxam esses assuntos para serem abordados?

Marcelo Papa: O Cris sempre faz as letras. Geralmente sobre situações que nos rodeiam mesmo, mas ele também curte falar de filmes de terror,  sobre as bandas que a gente cresceu escutando, como uma forma de tributo mesmo. Tudo ali, sejam as coisas sérias, ou as mais informais, são coisas que os 4 realmente concordam em ser exposto. Acho que se você tiver o mínimo de capacidade pra escrever, assuntos não faltam nessa vida que todos nós levamos. Nesse disco novo, o Cris já tinha a maioria das letras escritas. Algumas das musicas eu compus já com os temas resolvidos, e outros ele fez o contrário. Nós escutamos as bases e ele foi desenvolvendo a letra conforme o que ele “enxergava” nas bases, digamos assim; Foi o caso de Urban Thrash Skate Maniacs. 


Ainda sobre as letras, lembro de ter lido numa zine que uma certa música de vocês fala sobre um incidente no show onde colou nazistas, que incidente foi esse e qual é a música? Se importa de falar um pouco pra nós sobre isso?

Marcelo Papa: Malandro, esse dia foi tenso! “Knock Out” é a letra que saiu logo após esse fato. Em 2004, nos primeiros anos da banda,, alguns WP/Nazis colaram na porta de um Festival Hardcore, que era organizado pelo pessoal da verdurada e rolava duas vezes por ano lá no bairro Jabaquara. Esse festival bombava! No primeiro dia, eles colaram nos arredores e começaram a aloprar a molecada  punk mais nova. Pegavam as pessoas no metro ao lado, ou nos bares próximos. Isso foi informado pra gente, que estava lá dentro do show e pros organizadores do evento. No dia seguinte, já fomos preparados, pois sabíamos que os caras deviam voltar e realmente voltaram. No meio do show recebemos o relato que uma menina havia tomado porrada dos caras por estar com sua namorada nos arredores e mais um monte de gente reclamando que os caras estavam apavorando. Não contentes, eles colaram na porta do evento e tentaram forçar a entrada. Só que nessa verdurada tinha MUITA gente. Como era um festival, tinha gente do Brasil todo.  Vou te falar que a cena que mais se iguala ao fato , é a cena do filme ‘ Coração Valente”, quando o Mel Gibson grita “ FREEEEDOMMM” e todos saem pro combate! Hahahahaha... Foi todo mundo pra cima e botaram os filhos da puta pra correr. Todo o pessoal mais velho, inclusive nós do Bandanos , nos juntamos a molecada mais nova e os Nazis tomaram um preju mosntruoso. Não gosto de violência, mas conversa com esse tipo de lixo, não existe! DIE NAZIS DIE!!


Quase toda a banda tem membros straight edge, o que é algo "inédito" pra turma do Thrash, sempre rola aquele arquétipo do thrasher alcóolatra e intoxicado. Por acaso já rolou algum preconceito por tal posição ou a galera nunca ligou muito pra isso?

Lauro: O pessoal até respeita isso ai. Tenho vários amigos que são do metal junk e sinceramente, as vezes os próprios caras admiram essa postura de resistência. Claro que rola brincadeiras, mas tudo dentro do respeito.

Marcelo Papa: Comigo também sempre rolam umas piadinhas, mas no geral é bem tranqüilo. Quando alguém vem me oferecer  alguma outra coisa, eu apenas nego, não fico explicando. Mas tem gente que fica em choque, não entende, já estamos acostumados...hehehe. 


Recentemente vocês fizeram uma segunda turnê aqui no Rio Grande Do Sul, como foi rever o pessoal e conhecer gente nova? Contem mais sobre a experiência:

Lauro: Cara o sul sempre nos acolheu de forma impressionante. Nos sentimos tão a vontade que parecemos membros da família.

Marcelo Papa: Acabemos criando alguns amigos importantes por ai. Laura, Amanda Paz, e Renato CxFxCx  são alguns deles. Com o Renato, mantemos sempre contato, ele  tbm já fez um clipe pra gente e outro está por vir. Nessa ultima passagem, conhecemos o pessoal do Studio Navarro e vimos muitas afinidades também. Nos cederam a casa pra ficar e estamos mantendo contato sempre. 

Já que falamos da cena no RS, que vocês já sabiam das bandas daqui, já gostavam de alguns grupos? Quais grupos curtem e tal e se conheceram alguma banda nova nessa turnê que impressionaram?

Lauro: tem varias bandas ai no sul que são fodas. Dessa ultima vez conheci o Chute no Rim e o Charlar que me impressionaram. Ainda não tinha tido a oportunidade de conhece-los e agora pude curtir de perto. Cara nesse turne achei foda uma banda de Brasilia chamada Dead End. Em Joinville assistimos um show de uma banda chamada Zombie Cookbook, muito foda, pik death metal old school.

Marcelo Papa: Eu cito o “DCH”, de Bastos, interior de SP. Molekada com aquele sangue no olho que a gente tinha quando começou. Pelo mesmo motivo, cito o “George Romero” de Mato Grosso do Sul, grandes pessoas que movimentam as cenas locais. O “Reiketsu” tbm é uma banda que me impressiona todas as vezes que eu vejo. 


O Bandanos já teve também uma certa fama fora do metal, o curioso caso do Cão Zeca. Aos que não sabem, o Cris pode explicar a história e se rola ainda uma galera que se comove com essa história após tanto tempo. Aliás, ia rolar um projeto sobre um livro com essa história, não?

Cristiano: A historia envolvendo o Zeca, foi algo muito louco. O prédio onde moro sofreu um arrastão, onde vários apartamentos foram roubados, coisa de filme mesmo. O Zeca, meu cão, acabou sendo levado junto como se fosse mais um  produto do roubo. Nem eu mesmo consigo explicar todo o “fenômeno” que aconteceu. Eu compartilhei a história toda num post “desabafo” no facebook e assim tudo começou... Esse post e essa foto chegaram a mais de um milhão de compartilhamentos e os veículos de comunicação começaram a entrar em contato comigo e todo mundo queria saber da história. Eu acabei aparecendo em todos jornais e canais de TV para contar isso. Enfim, foram 7 dias de agonia e tortura de ficar sem meu filho canino, mas infelizmente devo admitir que o poder da TV nesse caso foi decisivo, pois graças a uma denuncia anônima a policia chegou até o cachorro que estava  a dezenas de quilômetros da minha casa, em um bairro totalmente afastado e ele acabou voltando. Não creio que isso tenha ajudado o Bandanos de alguma forma, mas as pessoas acabaram associando minha imagem a da banda. Tinha a ideia do projeto do livro sim, chegou a ser desenhado, mas demorou muito e acabou não vingando, pois a história já havia sido esquecida.



Cris Splatterhead, como tu és personal trainer e ligadão na academia, tenho que te perguntar: Léo Stronda ou B - Dynamitze?

Cristiano: Não acompanho nenhum dos dois, mas sei do que se trata, acho que o Stronda foi algo mais de caso pensado, meio jogada de marketing mesmo, o outro mano foi por acaso, nem ele imaginou que se tornaria “ícone pop” dentro do meio da musculação. Tem o lado bom e ruim dessas figuras, que seria a popularização da cultura e estilo de vida dos praticantes de musculação e atletas, mas acho que a maioria das coisas que eles devem dizer, é  um monte de abobrinhas...haha. Como disse, não sigo e nunca assisti nenhum dos dois.  O assunto pra mim é muito sério, é meu trampo e eles não trazem nada muito novo em relação ao que vivo todos os dias. Treinamento é uma ciência, coisa séria e que poucos realmente dominam e sabem o que estão fazendo, logo esse tipo de abordagem que eles praticam, as vezes polui o ambiente com falsos conceitos e ideias ruins.


Agradeço ao vocês pela entrevista e deixem seu recado final aqui:

Marcelo Papa: Muito obrigado pela entrevista! Somos grandes fãs das mídias independentes e se não fossem por elas, não teríamos nem metade da cultura underground que adquirimos hoje em dia. Siga firme! Grande a abraço pra você e pra todos que estão lendo. 

Fique abaixo com um vídeo especial que eles fizeram recomendações pra galera:



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