The Germs: Dianética a Serviço da Perversão

                       

Manipulador, paranóico, sensível, temperamental, autodestrutivo, gênio. Esses são os adjetivos onipresentes que o líder do Germs e ícone punk Darby Crash recebe de quem conviveu com ele.
Nascido com o nome de Jan Paul Beahm, Darby teve uma infância difícil. Seu irmão morreu de overdose quando ele tinha 11 anos, a mãe tinha problemas mentais e seu padastro sofreu um enfarte fulminante, deixando a família em dificuldades financeiras.
 
Na adolescência ele ingressa numa escola de caráter experimental, com bases na cientologia e que o objetivo seria formar futuros líderes e personalidades influentes da América. Dentre os colegas de escola de Darby, ele estudou com Kira Roesller (futura baixista do Black Flag) e lá também conheceu Pat Smear, seu  melhor amigo e futuro membro do Germs. Darby gostava de chocar e diversas vezes aparecia de cabelo tingido de azul nas aulas, para se sentir como um negro por um dia, como ele costumava dizer. Apesar da rebeldia, ele admirava a metodologia da escola. Isso, somado com o uso constante de LSD, tornou-o obcecado por controlar as pessoas e “brincava” de fazer lavagem cerebral nos colegas. Dentre seus ídolos estavam Hitler, Charles Manson, Osvald Spengler, Nietzsche e o próprio Ron L. Hubbard (o fundador da cientologia). Também gostava do lado fascista do rock, principalmente David Bowie na fase Ziggy Stardust.
 
Darby com Alice Bag, outra figura icônica do cenário punk de Los Angeles 
Em meados da década de 70 o cenário pré-punk de Los Angeles era ainda bem ligado no glam rock e não tinha as pretensões vanguardistas do que acontecia em New York. David Bowie era deus e as Runaways foram quem mais deu certo na cidade fazendo esse tipo de som.

Darby então decide ter uma banda e depois de diversas formações, se estabiliza com ele nos vocais, Pat Smear na guitarra (nessa época ele ainda não sabia tocar), Lorna Doom no baixo (Darby sabia do marketing que era ter uma integrante mulher) e o hippongo maluco de pedra Don Bolles na bateria.
Baseando-se na música “Five years” do Bowie, Darby traçou um plano de 5 anos para sua carreira musical. Seu objetivo era se tornar um grande astro do rock e morrer. Ele afirmava querer criar um exército de seguidores, à maneira do nazifascismo. Darby bolou então um logotipo, um círculo azul, que simbolizava a natureza cíclica da vida.

Darby era bissexual mas sempre teve relacionamentos estáveis com mulheres, agindo como gigolô, recebendo delas casa, comida e dinheiro prá drogas. Sem técnica nenhuma  e viciado em todo tipo de entorpecente, suas performances eram prá lá de caóticas, lembrando a de seu ídolo Iggy Pop, envolvendo automutilação, vômitos, insultos e muita violência. Niilistas ao extremo, sacanearam o Damned numa apresentação em que abriram para eles, jogando farinha de trigo nos “ingleses mauricinhos”.
Os Germs gravaram  um único álbum em 79, chamado “GI”, produzido pela ex-Runaways  Joan Jett. A intervenção da Joan no disco é mínima, já que ela antes tinha bebido e se drogado com a banda e passou a maior parte do tempo das sessões em coma alcóolico. O resultado é um dos discos mais mal gravados da história.  Isso não impediu de GI (Germs Incognito) ser um clássico instantâneo. Sujão, abafado, mixagem pavorosa, mas com músicas muito inspiradoras e empolgantes. A falta de apuro técnico acabou dando até personalidade e um certo charme pro trabalho. Darby também era muito culto e suas letras são muito superiores a bandas contemporâneas a eles. 

Pouco depois a banda participou do documentário “Decline of western civilization”, um dos poucos materiais que se tem deles e uma das últimas coisas feitas por Darby. Ele se afundava mais e  mais na heroína e isso é bem evidente no filme.
Pouco depois, ele faz uma viagem para a Inglaterra e se apaixona pelo estilo "new romantic" do Adam & The Ants. Ele planejava dar esse novo direcionamento prá sua música. E também adotou o corte de cabelo moicano, à maneira de Adam Ant na época.

Retorna aos Estados Unidos com esses planos, mas já bastante cansado, não suportando o estilo de vida que levava e sem esperanças de se recuperar, se suicida provocando uma overdose intencional de heroína e morre em 7 de dezembro de 1980 aos 22 anos. O “Five year plan” se concretizou!  Uma curiosidade é que ele morreu no mesmo dia em que o John Lennon foi assassinado e sua morte passou despercebida.     
Com a morte de Darby e o fim dos Germs, Pat Smear ficou sumido por muito tempo  e “renasceu” depois que virou integrante do Nirvana. Logo depois virou guitarrista do Foo Fighters, permanecendo até hoje com eles  e contribuindo para a merda de banda que são. Lorna nunca mais deu as caras. Don Bolles aparece em tudo quanto é documentário e se isso é possível, a cada dia aparenta estar mais lesado. Diversas compilações e bootlegs foram lançados desde então. Em 2007 o Germs ganhou uma cinebiografia “What we do is secret” e foi descoberto por uma nova geração.
 
Cena do filme "What we do is secret", de 2007 
Darby Crash continuou muito influente, tendo inspirado bandas e artistas como Poison Idea, GG Allin e Kurt Cobain. Contraponto saudável e  necessário à fiscalização ideológica e mentalidade de gueto de grande parte do hardcore da década de 80 até os dias de hoje.

Ele afirmava que queria que as pessoas o seguissem e predisse que um dia fariam orações prá ele como para uma entidade divina. Parece que conseguiu seu intento.

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