Entrevista - Vegas: Nunca explique, Nunca se queixe


Vegas é um daqueles casos curiosos, mas intrigantes de apresentar: Pouco se sabe sobre quem e como são, o máximo que se sabe é que a origem da banda foi na Alemanha. Mas sua música e atuação enigmática fazem parte do charme único que essa banda tem. Sua origem foi durante a virada do terceiro milênio, contando com um álbum e vários ep's e splits, criaram um certo interesse por aqueles que procuram uma vertente mais diferenciada no hardcore.

Ao escutá-los, nota-se uma sonoridade que remete a crueza e ferocidade do hardcore/punk metalizado de bandas como GISM e Integrity, misto com a ferocidade e cadência de bandas mais clássicas como Negative Approach e Lifeslood, alternando com experimentalismos e faixas acústicas. Todo esse imaginário fonográfico é acompanhado de letras introspectivas que abordam assuntos como individualidade, a passagem de tempo e auto controle com um vocabulário deveras abstrato e elíptico. 


Recentemente eles lançaram a compilação "Quanto Mais O Nada, Melhor", dedicada completamente para o público sul americano, pelo selo Psychic Rebellion. Já aproveitando o lançamento do disco, tivemos uma conversa com o T,membro constante e mente responsável pelo evasivo e misterioso grupo:


Bem, primeiramente agradeço por ter tempo para nos responder. Acho que vamos começar a entrevista com uma pergunta básica: Como o Vegas foi formado? Quais foram as influências do grupo no início?

No começo tudo era preto e branco. Vegas foi criado como uma banda punk, imaginando o que eu queria foi o começo. Você faz o que imagina e no fim das contas você cria o que você é.

A música de vocês tem um contraste de estilos interessante, no mesmo tempo que a banda cria uma sonoridade hardcore feroz e barulhenta, vocês também tem espaço para algo mais experimental e faixas acústicas. Conte-me mais sobre como é o processo de composição:

As composições vêm à tona naturalmente. Não há nenhum processo programado para escrevermos nossa música. A musa inspiradora faz todo o trabalho, quando o clima surge a tinta é derramada na tela.


Do que se sabe, você é o único membro constante na formação do Vegas. Você acha que essa alternância de membros adiciona nas composições ou limita você?

Vegas começou a ter uma vida por si só e virou minha companhia faz um bom tempo. Neste momento trabalho com músicos que não se interessam por tecnologia ou comunicação. Estou amando isso.

Alguma idéia de quantos colaboradores já passaram pela existência do grupo? Há algum motivo para essas constantes mudanças de formação?

Não há nenhuma “necessidade” por uma mudança. Pessoas vem e vão e as prioridades mudam. Vegas nunca se preocupou em seguir alguma fórmula e nem se confina estilisticamente numa delas. Não temos um público alvo, trabalhamos e compomos quando nos sentirmos inspirados pra isso.


Falando sobre lançamentos, vocês recentemente lançaram a compilação “Quanto mais o nada, melhor” por um selo brasileiro. Como foi o lançamento e porque o interesse num lançamento no continente sul americano?

Rodrigo bondosamente nos ofereceu a oportunidade de lançar esse CD pela Psychic Rebellion. A América do Sul, particularmente o Brasil, é uma parte do mundo que sempre despertou minha curiosidade. Olho Seco teve um 7’’ que foi lançado pelo selo alemão Pogar, que chamou minha atenção enquanto colecionava discos na minha adolescência. Tentativas frustradas de conseguir uma cópia de “Heute Spass, morgen Tod”, do Vorkriergsjugend pelo selo brasileiro New Face Records me estabeleceu os primeiros contatos com os admiradores de punk rock do continente sul americano, o que me apresentou bandas como Ratos de Porão e a coletânea Grito Suburbano.


Olho Seco? Interessante, normalmente o pessoal de fora relaciona a cena brasileira mais com nomes como Ratos de Porão. Alguma outra coisa da música brasileira ou bandas que despertam seu interesse ou curiosidade?

Gostaria de me aprofundar mais no funk carioca, vi alguns shows da M.I.A. e a influência dela no gênero chamou minha atenção. O “Movimento Música Viva” (Nota do editor: creio que se refere ao Grupo Música Viva) e a natureza dos cânticos da capoeira são os tipos de coisas que gostaria de presenciar e experimental pessoalmente, assim como canções com grande presença de percussões como o maracatu.

Também tenho curiosidade de ver as versões musicadas da literatura de cordel.


Vegas também é conhecido por seus lançamentos limitados e “versões da banda”, seria isso uma tática para aproximar mais os fãs da sua música ao grupo? Conte-me mais sobre isso:

Bandas conseguem cópias exclusivas e coisas como “edição do artista” são formas de tornar a compra de discos algo mais especial, algo menos mundano do que as edições regulares, além de uma certa forma de premiarmos as pessoas que prezam a buscar e comprar o material diretamente da fonte.

Você também é conhecido por ser um viajante prolífico, por quantos países você já passou até agora? Porque o interesse nesse estilo de vida?

Eu creio que estou chegando a 60 países que já visitei até agora. Viajar e se expor a novas experiências ajuda a manter o sangue fino.


Você já visitou a América do Sul? Se não, o que te interessa na região se você ainda pretende viajar por aqui?

Infelizmente não tive a chance de visitar o continente ainda, como ainda é um terreno desconhecido pra mim, pretendo manter os meus interesses os mais abertos possíveis. Espero experimentar o terreno do “cone do sul” o mais breve possível, antes tarde do que nunca!

Falando em viagens, experiências e mente aberta: O que você pensa sobre nacionalismo e estereótipos? 

O nacionalismo é uma doença infantilizada, fome por poder temperada por auto enganação. Um narcisismo coletivo em seu mais baixo denominador comum.

Já os estereótipos vão infelizmente existir sempre, mas devemos fazer um esforço coletivo em não ver o mundo por um prisma que seja refletido por isso. Quando você observa o mundo e se mantem por estereótipos é pura preguiça e pintar uma tela com um pincel extremamente grande, sem texturas ou detalhes. 

Vegas sempre foi e sempre vai tratar sobre individualismo e manter sua alma viva, ao invés de dizer amém para tudo que o mundo te dizer simplesmente. Pense por si só, não siga cegamente o fluxo, questione tudo! 

Mas também acredito no direito inalienável de alguém ir para o inferno de sua própria maneira.


Em um momento de suas carreiras. Você, Dwid Hellion (Integrity), Nick Fiction (Pale Creation) e outros músicos criaram um projeto interessante chamado Roses Never Fade. Como surgiu a idéia e como foi as gravações desse trabalho?

O projeto começou durante a turnê europeia do Integrity em 2003, no ônibus do grupo. Absinto, quantidades massiva de atum, molho de tabasco, frappuccinos de baunilha, coleção vintage de casacos militares Abercrombie, cervejas Duvel, Sintra, um bunker sem janelas, cadeiras rangendo, Journey e cigarros mentolados foram peças que tiveram um papel essencial na criação pálida de Roses Never Fade.

Num split mais recente com o Integrity, ambas as bandas fazem versões de músicas que estão na trilha sonora do filme “O Diabo É Meu Sócio”. Como surgiu esse conceito? 

Sempre fui um fã da genialidade humorística de Peter Cook e Dudley Moore.


Se pudesse, haveria algum outro filme que você quisesse fazer versões? 

Na verdade, não.


Falando na sétima arte, algum filme que viste recentemente e te deixo uma boa impressão?

Não tenho tanto tempo para ver muitos filmes hoje em dia.

As apresentações ao vivo de Vegas são bem raras, algum motivo para isso? Há planos de mais shows ao vivo no futuro?

Seria muito interessante tocar no continente sul americano!


Como somos um blog de música, faremos aquela pergunta inevitável: O que você tem escutado ultimamente? Que bandas e músicos te ajudaram a formar a música que você fez pro Vegas e seu gosto musical ou visão do mundo?

Eu escuto todos os tipos de músico, principalmente quando estou correndo. Eu tento escutar um álbum novo a cada dia. Músicos e bandas não me ajudam a formar tanto assim uma visão do mundo, mas aqueles que me interessam sem dúvida ampliam essa visão.

E há alguma coisa que você gostaria de recomendar o pessoal a ouvir? 

Kollegah


E como somos um blog brasileiro, vamos pra outra questão óbvia: Alguma coisa na cultura ou história brasileira que tem seu fascínio?

Por onde eu começo? A linguagem (aparentemente a variante brasileira do português incorporam influências indígenas e africanas no seu vocabulário), o adeus para as coisas ruins numa sessão de disciplina para praticar redenção e se preparar para morte e ressureição de Cristo (sim, estou falando do Carnaval), assim como brigadeiros e beijinhos para satisfazer minha gula.

Também é difícil não gostar da arquitetura manuelina, os trabalhos literários de Machado de Assis e as habilidades e dribles de Pelé.


Quais os planos futuros do Vegas para o momento?

Novos lançamentos a caminho: Um limitadíssimo lathe cut e um novo Split 7’’ com um de nossos amigos.

T, muito obrigado pela entrevista, alguma última mensagem para os leitores?

Ajuda-te que deus te ajudará.



É isso então galera, se vocês querem saber mais da banda, acesse o facebook ou o bandcamp deles. E para quem estiver interessado em obter uma cópia do compilado "Quanto Mais O Nada, Melhor", só contatar a página do selo Psychic Rebellion.


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One thought on “Entrevista - Vegas: Nunca explique, Nunca se queixe”

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